quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Crônica do Amor - por Arnaldo Jabor

Crônica do Amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.


O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.


Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem ou é fã do Zeca Baleiro. Isso são só referências.


Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.


Ama-se pelo tom de voz, pela maneira como os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.


Você ama aquela petulante! Você escreveu dúzias de e-mails que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou morrer a seco.


Você gosta de chorinho e ela de rock, você gosta de Sol e ela gosta de Lua, você abomina o Natal e ela detesta o Ano Novo. Nem no ódio vocês combinam. Então?


Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa paralisado. O beijo dela é mais viciante que cocaína. Você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.


Você ama aquele cafajeste! Ele diz que vai ligar e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim, você não consegue desgrudar dele.


Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita, adora animais e escreve poemas. Por que você ama esse cara?


Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Cohen e do Scorsese, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.


É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, inteligente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e sua lazanha é imbatível.


Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adoooooooooora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?


Ah, o amor... essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.


Não funciona assim.


Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC/SERASA. 
Ama-se justamente pelo que o AMOR tem de indefinível.


Honestos existem aos milhares, generosos às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!


Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! 
Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. 
É a contingência maior de quem precisa.

Arnaldo Jabor (com adaptações)

Beijinhos, a garota do Blog.

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